segunda-feira, maio 07, 2007

Pasárgada

Era jovem, muito jovem, diziam os outros. Engraçado, tinha a nítida sensação de que nada mais de bom estava por vir. As angústias e os problemas futuros eram muito maiores, e ela, mal conseguia suportar os de agora. Não sabia por onde ir, que caminhos tomar, que escolhas fazer. Sabia que queria ser muito feliz, se divertir muito e não ter mais preocupações. Tinha plena certeza de que isso, era impossível.

A parte boa da vida já tinha passado – não se arrependia; a vivera intensamente, sem desperdiçar nenhum minuto, nenhuma oportunidade. A espontaneidade, as gargalhadas, as madrugadas. Grandes e fiéis companheiras. Não podia dizer que fez tudo como mandava o figurino, mas sim como era esperado das improvisações que a caminhada pela vida obriga todos a fazerem. Reconhecia-se como bem sucedida naquilo que fez, mas não era capaz de enxergar no horizonte uma grandiosidade como a que já tinha passado.

...

Nascera e vivera por muito tempo em Pasárgada. Sim, era amiga do Rei, os dias eram mais bonitos, os pássaros cantavam melhor e ela percebia a beleza disso tudo. Nunca mudara de endereço, foram poucas as mudanças da vida – podia-se dizer que se tratava de conseqüências do fluxo natural de uma vida de sorte. Nem o telefone, nem o CEP da casa mudaram. Mas Pasárgada sim. Esta se mudara, sabe-se lá para onde. Não estava mais por lá. Fazia pouco tempo que saíra, mas queria, queria mais do que tudo, voltar pra lá. Pra Pasárgada. Não sabia como.


(Novembro de 2005)