sábado, maio 12, 2007

Hipertexto metatexto


Ele fazia parte da poesia sem saber*, assim como a palavra arde não sabe fazer parte do soneto do Camões. Ou sabe, mas ela também faz parte da pergunta da criança medrosa, quando se machuca e vê a mãe vindo com remédio:

- Mãe, isso arde?

Se sabe, um sabe outro.

As palavras sabem, mais ou menos, quem são, mas nunca sabem o que o destino vai fazer com elas. Um dia, elas olham para os lados e vêem que estão fazendo parte de algo que faz delas bonitas, engraçadas. Ficam bem quando no meio daquelas outras palavras. De repente, sem aviso prévio, olham de novo e ficam xoxas ou até feias – assim como num dia cinza em que só se vê na rua pessoas indo pro trabalho. O vento sopra pra outro lado e lá estão elas apaixonadas. Chove e elas choram. Tudo, tudo depende de como os nossos dedos e lábios brincam com elas. Mas são tantos milhares de dedos e lábios se mexendo ao mesmo tempo que elas nunca podem prever onde estarão no minuto seguinte, elas não sabem o que esperar. Assim que nem a gente, né?




* idéia vinda de outro lugar, que provavelmente não vai chegar aqui. Idéia que não tem nada a ver com esse outro lugar e que por isso mesmo veio parar aqui.