quarta-feira, junho 20, 2007

Paris, je t´aime.

Era certinha, muito certinha. Programava, executava. Tinha razões e objetivos para estar nos lugares. Mas com Paris tudo era diferente. A cidade, costumava dizer, tinha um ar de consolo. Paris consolava. Paris era por si. Paris era o motivo de se estar lá. E era. Descobriu isso depois de se deixar ir ao fundo de si mesma, depois de se deixar encontrar as próprias trevas e sair para passear, sem rumo. Olhou para os lados e lembrou que estava em Paris, que morava lá. E que estava pela primeira vez em um lugar pelo lugar, por nada mais. As lágrimas secaram: nenhum caso de amor seria maior do que aquele.

domingo, junho 10, 2007

A culpa é toda deles

Conheço umas pessoas muito chatas. Dessas que fingem que não sabem escrever. Dessas que ficam por aí, gastando tempo com outras coisas e não escrevem o melhor lançamento do semestre. E eu aqui, atualizando um blogue de nome impronunciável, alhures, nenhures. Tudo culpa dessa gente que não escreve – aí eu não leio e não fico com vergonha de colocar os resultados do meu tico-tico na rede.

sexta-feira, junho 01, 2007

Sobre porquinhos-da-índia, bolinhos de bacalhau e o Rei

De uma manhã de trabalho em Ruinn, que está começando a ficar Bonn.

Ei! Nunca mais conseguimos conversar direito, né? Ai, esse mundo contemporâneo. Resolvi que odeio geografia. Primeiro fico a um oceano de distância de todo mundo. Depois, tem isso de fuso horário. Ai.

Ontem, sabe-se lá por que, lembrei muito de você. Na verdade, fiquei com muita vontade de contar especificamente pra você o dia de ontem. Já contei pra um montão de gente, mas quero mesmo que você saiba. Um dia sensacional, sen-sa-cio-nal. No trabalho foi tudo normal pra variar, porque trabalho sempre é normal. Tá, foi até um pouco melhor que a média, mas ainda assim normal. Não é de trabalho que quero falar (já até vi um "ufa").

No fim do dia, fui com umas amigas tomar um vinhozinho, já que tava frio. Fomos parar em um restaurante espanhol. Aqui é a maior moda essa coisa de restaurantes espanhóis, as pessoas gostam dessa idéia de comer umas "tapas" e a cozinha alemã não é muito feita pra iso não.

Lá estávamos nós no restaurante espanhol que, veja você, tinha um dono português. Perguntamos pro portuga – ai, ele é tão fofo. Um dos portugas mais portugas que já vi na vida – por que não era português o restaurante. Com aquele sotaque bem carregado, ele nos contou que, quando chegou à Alemanha e assumiu o restaurante, ali já funcionava um restaurante espanhol e ele já estava muito velho pra começar outra coisa. Claro que ele deu um toque pUrtuguês no restaurante: o lugar passou a se chamar Casa Antonia e ele adicionou bolinhos de bacalhau, caldo verde, patinhas de caranguejo e vinho e aguardente portugueses ao cardápio . Hmmm que delícia.

Estávamos lá comendo os bolinhos de bacalhau (pastéis de bacalhau, claro) acompanhados de um vinho do Alentejo, quando seu Zé coloca uma música para "as brasileiras". Roberto Carlos, fase da jovem-guarda. Ai, foi sensacional. Uma emoção só. Ficamos conversando a noite toda com seu Zé, cantando e dançando Roberto Carlos, naquele restaurante que tinha um clima tão bom: todo de madeira escura, uma luz meio baixa, as pessoas conversando e seu Zé, tão fofo. Disse até que sua mulher era "portuguesa com certeza" e nos agradeceu com um "obrigadinho".

Tá, nem parece tão legal assim. Mas foi. E tinha que te contar. Não sei se pelos papos que sempre temos de comida e cozinha (taí uma coisa que eu queria saber fazer: bolinhos de bacalhau), ou se pelo Rei. Acho que você ia entender toda a felicidade de ter "iê-iê, que onda, que festa de arromba" ou "calhambeque, bibi" como trilha sonora de uma noite lusófona, comendo bolinhos de bacalhau caseiros e tomando um vinhozinho.

No fim da noite, pra fechar com chave de ouro, estava voltando pra casa de ônibus. Desisti de voltar sozinha de bicicleta. Quando ninguém vai pra casa comigo ou pelo menos na minha direção, não saio de bicicleta. Você tem que ver o medo que dá andar naquelas ruas sem iluminação, vazias, silenciosas, e ouvir o barulho da corrente de bicicleta. Ai, juro, fico achando que vou ser assassinada com uma serra elétrica a qualquer minuto. Enfim. Desci do ônibus noturno e comecei a caminhar em direção à minha casinha. Ouvindo meus passos, tec. Nehc,. Toc, ploft. Já disse que as ruas não são iluminadas né? Por uma coincidência feliz, resolvi olhar pro chão e, ufa, consegui desviar de um porquinho-da-índia. Ia machucar meu pé feio se não tivesse visto. Primeiro meu coração ficou muito acelerado, com medo. Depois respirei e vi, que lindo, um porquinho-da-índia. Ia pegar a câmera pra tirar uma foto, mas ele sentiu minha presença e fugiu. Poxa.

Tô com saudades, viu? Deu pra perceber, né? Esse email enorme e insuportável falando de bolinhos de bacalhau, roberto carlos e porquinhos-da-índia. Só eu mesmo. Bom, a boa má notícia é que nenhuma das minhas tentativas de ficar deu certo. Estou chegando aí em pouco tempo. No máximo no início de setembro. Vai separando um fim de semana aí pra gente tomar umas. E uma nova receita pra um jantarzinho entre amigos. Ou um almocinho entre amigos. Estou aprendendo as especialidades culinárias alemãs pra preparar uma refeição toda. Alguma coisa eu tinha que fazer de útil aqui, né?

Beijos, querido.


Tinha sonhado com ele naquela noite. Na mesma noite, sonhou que sonhava há duas noites seguidas com ele. Será que sonhava há duas noites seguidas e achou que esse pensamento, lúcido, era sonho? Essas madrugadas claras andavam confundindo a cabeça dela. Era uma paixonite aguda e platônica, sabia. Jamais poderia declarar-se, nem dar sinais além daquele enorme email, que sabia, não deveria ter escrito, mas não conseguiu se segurar. De qualquer forma, estava tranqüila. Escreveu estrategicamente amigos duas vezes no final de tudo. Sonhava com conversas apaixonadas e brigas que teriam. Algumas intelectuais também. Sonhava acordada mesmo. Quando sonhou à noite, sentiu que a coisa era séria. Escreveu o email, clicou em send e se arrependeu. Ia achar ela uma chata, nunca mais ia querer tomar uma cerveja com ela. E ele era tão legal... Ai