quarta-feira, novembro 28, 2007

Mulherzinha Contemporânea X

A MC escolheu a primeira resolução da lista de resoluções do ano novo, que ainda vai mudar umas cinqüenta vezes – no fundo, ela sabe disso. Vai namorar um poeta.

Elas, as palavras

Ele quase não sorri, mas tem as piadas ruins de quem ri por pouco, de quem ri e ninguém em volta entende o porquê, mas acaba se contagiando pela gargalhada. Ele não é muito afeito ao contato físico, mas tem as palavras de quem abraça apertado quando encontra, de quem coloca no colo e faz cafuné, de quem rouba beijo, de quem, na mesa de bar, sem olhar nos olhos, enquanto ninguém percebe nada, encosta na mão e não solta, dizendo tudo. Ele diz o que os gestos não precisam dizer, mas ele diz.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Mulherzinha Contemporânea IX

É novembro e a MC fez uma planilha de afazeres, devidamente salva em seu Palmtop, que em breve será trocado por um blackberry. Por causa da loucura, só vai à manicure duas vezes, cabeleireiro só em dezembro, a corrida diminuiu de três para duas vezes na semana, de 50 para 30 minutos. Mas não abre mão do pilates - tudo tem limite.


Fevereiro já!

Novembro é muito mais que um mês. É um estado, uma forma única e inigualável de perceber o mundo e a vida. De repente, olha-se o calendário para, ingenuamente, tentar marcar aquele almocinho, com aquele camarada a quem já se deve um encontro pra colocar o papo em dia há muito tempo.

Num susto novembresco, você repara que a sua lista de afazeres nos próximos 30 dias preencheria facilmente dois anos se pudesse ser cumprida em tempo ideal. O problema é que depois do dia 30, benzinho, só em fevereiro. Colocar papo em dia é coisa de julho, agosto, nos dias mais curtos do ano, calma é palavra proibida, número 1 do Index.

O maior desafio da ordem mundial e da compensação universal não é erradicar a miséria do mundo – isso todo mundo já previu. Quero ver alguém acreditar que um dia, em novembro, será possível ir à pé, porque não há pressa.

Até lá, encontros marcados ou casuais em novembro, que não tenham sido agendados com 45 dias de antecedência e não tenham hora definida de início e fim, ficam no limbo do “vamos marcar!”. E a resposta para o corriqueiro “Como vai?” será “Novembro. E você? Março?”

****

Mais sobre novembro nos arquivos aqui do AN.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Mulherzinha contemporânea VIII

No day-after, a MC gosta de receber mensagens de texto perspicazes no celular – dessas que abrem um leve sorriso. E responde no mesmo nível. Se precisar, até desliga o T9 para escrever palavras como perspicaz no telefone.



Mulherzinha ou sem um título melhor

Flertava. Por email. Os auges de ansiedade eram as palavras com duplos significados. As decepções, as dissimulações, o pode-ser-como-pode-não-ser, tudo corria como num flerte normal. Só que por email.

Achava que a modernidade tinha acabado com o romantismo das cartinhas. Essas antigas senhoras eram preciosismos de casais apaixonados à moda antiga ou de amigas de infância que precisassem dar fim às coleções de papel de carta.

– As cartas, hoje em dia, são entregues em mãos, não chegam mais pelo correio, e continuam servindo pra dizer com as palavras da mão, aquilo que as palavras da boca não sabem ou não têm coragem de dizer. Disse, em voz alta, olhando pro espelho do banheiro.

O problema era que gostava de falar como se escreve. Ou de escrever como falava, não sabia bem. “O que eu faço com as cartinhas então? Ai.”, pensou. As questões da escrita eram indizíveis.