quarta-feira, novembro 14, 2007

Mulherzinha contemporânea VIII

No day-after, a MC gosta de receber mensagens de texto perspicazes no celular – dessas que abrem um leve sorriso. E responde no mesmo nível. Se precisar, até desliga o T9 para escrever palavras como perspicaz no telefone.



Mulherzinha ou sem um título melhor

Flertava. Por email. Os auges de ansiedade eram as palavras com duplos significados. As decepções, as dissimulações, o pode-ser-como-pode-não-ser, tudo corria como num flerte normal. Só que por email.

Achava que a modernidade tinha acabado com o romantismo das cartinhas. Essas antigas senhoras eram preciosismos de casais apaixonados à moda antiga ou de amigas de infância que precisassem dar fim às coleções de papel de carta.

– As cartas, hoje em dia, são entregues em mãos, não chegam mais pelo correio, e continuam servindo pra dizer com as palavras da mão, aquilo que as palavras da boca não sabem ou não têm coragem de dizer. Disse, em voz alta, olhando pro espelho do banheiro.

O problema era que gostava de falar como se escreve. Ou de escrever como falava, não sabia bem. “O que eu faço com as cartinhas então? Ai.”, pensou. As questões da escrita eram indizíveis.