sábado, maio 17, 2008

Mulherzinha Contemporânea não-sei-mais-que-número

A MC é cidadã do mundo, isto é, pode morar em qualquer lugar. Desde que tenha água quente, travesseiros de pena de ganso, internet, celular, uma boa farmácia com boa variedade de cosméticos e um bom cabeleireiro. Sem isso é demais.

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Sair da cidade e continuar perto dela cria uma relação bipolar com as origens.

Uma hora acha-se estar no caminho certo, que a vida precisa sempre tomar novos rumos. Na outra, catapum!, bate a sensação “o que eu estou fazendo aqui?”.

O Rio de Janeiro, por exemplo, que cidade sedutora, cheia de curvas, sorrisos, sol que esquenta e gente de fala mansa. Criancinhas correndo e aprendendo a andar de bicicleta no parque dos patins aguçam o mais parco dos instintos maternais, a Lapa engarrafada enche os corações solteiros de esperanças, o baixo Leblon aberto por toda a madrugada faz qualquer um se sentir dono da cidade.

Daí que a pessoa sai do Rio. E vai ao cinema sem encontrar uma alma conhecida, toma um café sem precisar abaixar a cabeça para não ter que falar com “aquele” mala, não consegue escolher que peça de teatro ver de tantas opções, e sente frio na barriga de olhar um mapa e não fazer idéia do que a espera do outro lado do aeroporto central.

De repente, catapum de novo, promoção de companhia aérea. Compulsão por compra de passagens e o avião chega e te coloca de cara com o pão de açúcar. E sim, o pão de açúcar entrava no seu campus universitário. Literalmente. Lágrimas nos olhos, amigos que podem sorrir e gargalhar, porque ser feliz não é vergonha nem sinônimo de que se está trabalhando pouco.

Mais de três dias e chega. Porque o Rio de Janeiro tem que ser a melhor cidade do mundo e querer sair dele é quase uma heresia. Difícil é estar numa cidade em que os pensamentos sobre ela são mais do que amorfos, em que se julga qualquer tipo de atitude que os desvie e que, ironia ou não, em plena era da globalização, não achar que se vai morar em um mesmo lugar pra sempre é crime inafiançável contra a pátria – a carioca, claro.

-Ahn? Você morava no Arpoador? E você saiu de lá por que mesmo, hein?

Mas aí faz sol e o tempo não esquenta. E o caminho exato pra qualquer lugar é uma decisão um pouco arriscada. E acordar vendo o mar faz falta.